todas as noites, quando o bairro se recolhe e a avenida fica vazia

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todas as noites, quando o bairro se recolhe e a avenida fica vazia, eu desco a minha rua. caminho para perceber onde ficou a minha poesia e comecou esta adultez fria. releio os recados de amor que te mandei e todas as verdades cruas que te disse. e descubro-me aqui, virada para o mar, sozinha sem mapa ou plano definido. penso nas mulheres todas que te habitaram. penso nestas mulheres e porque elas te deixaram. adivinho-lhes os rostos, as suas maos delicadas, as suas naturezas doces e tempestivas. questiono se nao sou ja estas mulheres todas que te habitaram um dia. quanto tera durado o teu amor. quanto durara agora.

stuck...

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stuck...
num quarto que vou decorando com mimos teus. projecto filmes na parede, sarrabisco coisas no monitor, lá fora o tempo passa... ou será que congelou?!

 

morning status.

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hoje inspirações de insónia habitam-me. existe um torpor e um alerta conjuntos nesta condição. parto de casa e fotografo árvores no caminho para o metro. porque nesta altura as árvores são altas e magras como mulheres despidas na rua. construo, refazendo estas imagens com os meus dedos no vidro; são como mulheres despidas na rua. verdes, altas, pungentes.

sea usted el juez

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ocupas sempre a mesa do canto, de olhos fitos no teu livro, sem nunca olhar para ninguém. e eu gosto de ficar sentado, simplesmente a olhar para ti, sempre a duas mesas contadas da tua.

hoje tens uma camisa branca vestida, três botões desapertada, e um colar azul cobalto pousado no teu pescoço. a tua pele é clara, salpicada de sardas miúdas. e os teus olhos verdes estão discretamente riscados de preto.

tu sorris de vez em quando para o livro à tua frente, enternecida com um parágrafo qualquer, enquanto eu vou reparando nas madeixas de cabelo que vão caindo, desalinhadas, no colo do teu peito.

pergunto-me se existirás de facto noutro lugar qualquer. ou se fui eu, que hoje acrescentei à tua personagem, o lenço florido vermelho pousado ao teu lado, em cima da mesa.

verdades

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este é o momento da verdade clássica histérico-amorosa.

o momento em que voo pela janela, cidade afora.

its late

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tu ainda não sabes, mas quando chegares a casa, não estarei la. deixei-te.
hoje
de manha menti-te e não fui trabalhar. separei a minha roupa da tua. os
meus livros dos teus. as minhas fotografia das tuas. fiz as minhas
malas devagar. e sai de casa.
adiei este momento demasiado tempo.
não te quero mais. não te quero ouvir mais. não consigo mais viver
contigo. nunca mais te quero ver.
termina hoje. deixei-te.

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